Dois vagões, com 87 lugares cada, levarão turistas à vila histórica em Santo André, que cresceu no século 19 em torno da linha férrea
17 de setembro de 2010 | 0h 00
Edison Veiga - O Estado de S.Paulo
A vila histórica de Paranapiacaba, em Santo André, no ABC paulista, nascida por causa do trem, volta a ser ponto de locomotivas. A partir de domingo, será possível fazer os 48 km do trajeto Luz-Paranapiacaba por trilhos. Trata-se do novo itinerário do projeto Expresso Turístico, criado há 1 ano e meio pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Pablo Liebert/AE
Roteiro. Novo trajeto da CPTM é o terceiro a integrar projeto turístico: bilhetes a partir de R$ 28
Paranapiacaba foi fundada justamente no entorno da linha férrea instalada ali no século 19 - surgiu como centro de controle operacional e residência para os funcionários da companhia inglesa São Paulo Railway. Assim, a chegada do Expresso Turístico ao distrito, de certa forma, evoca a sua origem. "Isso é muito simbólico", diz o secretário adjunto de Transportes Metropolitanos, João Paulo de Jesus Lopes. As passagens já estão à venda nas Estações Luz e Celso Daniel, em Santo André, das 6h às 18h30.
Engana-se, entretanto, quem pensa que o turista vai chegar lá e encontrar o histórico bairro tinindo. Há tempos, a conservação e restauro do patrimônio histórico do bairro vêm sendo negligenciados. "Não tenho visto um trabalho de manutenção", diz a artista plástica e dona de pousada Cristina Telles Gomes, que vive ali há 12 anos. "É algo que preocupa muito, como se fosse um pedaço da gente que vai se estragando", completa Zilda Bergamini, moradora de Paranapiacaba desde 1970, proprietária de um bar e diretora da União Esportiva Charles Miller.
O entorno da estação ferroviária, cheio de vagões de trem abandonados, aliás, já é um péssimo cartão de visitas. "Não podemos mexer ali porque há questões de preservação histórica", defende-se Lopes.
Sem fumaça. O Expresso Turístico não é uma daquelas históricas marias-fumaça, presentes no imaginário popular. São duas locomotivas a diesel, modelo Alco RS-3, ano 1952, e uma General Electric U20C, fabricada na década de 1960. Cada qual conduz dois vagões de passageiros, cada um com 87 lugares, feitos de aço inoxidável, fabricados no Brasil nos anos 1950 - cedidos pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária e restaurados pela CPTM.
Os vagões pertenciam à Estrada de Ferro Araraquara, e operavam na linha conhecida popularmente como Araraquarense - São Paulo, Campinas, Araraquara, São José do Rio Preto e Santa Fé do Sul. Esse percurso foi inaugurado em 1898. Até 1955, só trens a vapor (a maria-fumaça) circulavam pela linha, com vagões de passageiro de madeira.
Na Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), esses vagões trabalharam até 1998 e foram os últimos trens de passageiros de longo percurso no Estado. "Conseguimos guardar alguns exemplares", diz Anderson Conte, membro da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. No Expresso Turístico, são rebocados pelas locomotivas a diesel da CPTM.
O projeto. Em abril, o Expresso Turístico completou um ano, registrando mais de 12 mil viajantes nos dois trajetos em operação: Luz-Jundiaí (aos sábados) e Luz-Mogi das Cruzes (quinzenalmente aos domingos). No total, foram realizadas 75 viagens. O trajeto até Jundiaí, primeiro a ser implementado, concentrou o maior número de turistas no primeiro ano: 9,4 mil. O até Mogi das Cruzes, realizado desde junho de 2009, computou 2,8 mil passageiros.
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